A sala quebrada
Na minha sala fechada, bem ao centro
Existe um pequeno livro de memórias
Para o qual tenho evitado olhar adentro
Receando reler as dores sem demoras.
Tenho passado muito tempo parado
Em meio a essa sala fechada, magoado
Sem saber dos problemas do mundo
Afogado no poço de lamento profundo.
Quando levanto, é para acender velas
As quais apago com as próprias lágrimas
Que aparecem ao me lembrar das páginas
Desse livro que me aprisiona melhor do que celas.
Se fosse você, estaria pintando lindas telas
Que ilustrassem por inteiro esse fim de tudo
Mas talvez achem que eu não precise delas
Basta me fundir às paredes, gelado e mudo.
A verdade é que preciso de outro tipo de vela
Que me ajude a ir para longe desta Terra
E te permita sorrir de novo, por inteiro
Como elas costumam fazer no terreiro.
Este janeiro absurdamente chuvoso
Muito parece querer nos tematizar
Ilustrar esse atentado doloso que cometi;
É o universo querendo traumatizar.
O maior risco de jogar fora esse livro
É deixar escorrer a outra parte da história
Lembranças de sentimentos que nunca antes tive
E cada detalhe que fez desta uma grande trajetória.
Não importa por quantas vidas tenha passado
Toda criança precisa aprender a andar novamente
E quando se trata de amor não é nada diferente
Sei disso porque é a sua pessoa que tenho amado
Mas o que faz o meu coração bater acelerado
E marejados olhos ficarem encharcados
É não ter sido capaz de aprender mais rápido.
Eu olho para todos os lados, fecho as pálpebras
Procurando refúgio em algum não lugar
Mas a verdade é que me sinto tão pequeno
Que não me acho mais nem sob o luar.
Vou te contar algo que tenho na minha mente:
Fico completamente dividido nesse porvir
Entre ficar para trás e te ver indo em frente
E não querer jamais me despedir.
Direita ou esquerda, o caminho é para o futuro
E sei que o universo já tem as respostas
Mas como estão tardando, ficarei de costas
Olhando para você aqui, agora, enquanto espero.
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