Escalada (Inacabado)

 


Subo.
Cada passo arranca de mim um pedaço do que fui,
e cola no peito um pedaço do que serei.

O chão range sob a infância,
leve, inquieta, sem saber por quê.
No rosto, um céu limpo.
No olhar, perguntas sem forma.

Sigo.
E o corpo cresce,
mas é o mundo que pesa.
As verdades se dobram ao meio,
como cartas mal lidas,
e a coragem caminha ao lado do medo,
sem que eu saiba quem segura a minha mão.

Ascendo.
A estrada me veste de escolhas,
e me despe de certezas.
A voz engrossa,
mas nem sempre diz o que sente.
O amor arde, mas também calcula.
A fé chama, mas fala em muitos idiomas.

Respiro.
Já não sei se estou chegando ou voltando.
Mas carrego no ombro
as dores que escolhi suportar
e os silêncios que aprendi a cultivar.

No alto,
quando o sol me atravessa,
não encontro respostas.
Só um reflexo em luz quente,
que me acena como se dissesse:
a busca também é casa,
e ser é um verbo inacabado.

L. G. Unger

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