Desabafo sobre o cotidiano das redes

 


Olá! Eu sou Lucas, como é sabido por todos os que leem ou já leram as escassas postagens deste blog. Este é o primeiro texto que posto em tom totalmente pessoal; e a razão disso é que trata-se de um desabafo, se for para colocar de forma simples. Normalmente escrevo críticas de filmes ou textos de opinião; ou, ainda, contos que reúnem o que encontro em minha imaginação e desenterro do meu cotidiano.

Acredito que a maioria dos que têm acesso a esse material me acompanham pelo Instagram (ou, em último e raríssimo caso, pelo Facebook), e eu gostaria de começar falando sobre isso, pois foi o ponto de partida para tudo o que pensei antes de decidir usar este espaço para monologar com vocês.

Sempre fui uma pessoa muito tímida e insegura. Quando se comenta sobre bullying entre crianças e adolescentes, muito se diz sobre a aparência ou elementos mais diretos (ser gordinho, ser baixo, emo, gótico, magro, sexualidade, etc.); mas todas essas características andam de mãos dadas com a insegurança e problemas parecidos. Se não fosse o caso, não haveria casos de uma pessoa de mesma característica praticando bullying com alguém absolutamente semelhante. Aprendi a lidar com grande parte da minha insegurança e timidez, nos últimos dez anos, mas sei que ainda estão aqui, que ainda fazem parte de mim. Além da melhora verdadeira, os anos nos fazem aprender a atuar e reverter situações; e, às vezes, o fato de isso funcionar bem é um problema.

Inicialmente (e imagino ser o caso da grande maioria) criei as minhas redes sociais para fazer parte deste mundo. Em outras palavras, para ver e ser visto, ouvir e ser ouvido. Por contextos que ocupariam muito espaço para serem aqui descritos (em resumo, o fato de eu ser uma pessoa muito nichada), o tempo trouxe certo crescimento a essas minhas contas nas redes; e quanto mais procurava me distrair daquilo que me cercava, mais esse crescimento sorria para mim, e eu sorria de volta. Isso tudo me trouxe muita autoafirmação e autoconfiança, mas não sem consequências. Em outras palavras, o ego e o escapismo, desde a década passada, são o melhor amigo das redes sociais. Como uma mãe que interfere nas amizades erradas, a vida percorreu o seu caminho e trouxe lições e apaziguamentos.

Uma vez apaziguados os ânimos, tive que admitir que as redes sociais ainda são um ótimo meio de divulgar coisas: seja trabalho, seja hobbie, memes, ou mesmo desabafos menores (e agora estou extrapolando quanto a esse último). Publiquei um livro que, fazendo sucesso ou não, é um grande orgulho em minha vida; e o divulguei no Instagram com tamanha frequência, que momentaneamente estou dando um tempo disso. Também me faz bem compartilhar as minhas paixões quanto à nerdice, seja por meio das minhas coleções e derivados delas (como os dioramas de Star Wars), seja falando sobre ela. Sobre esse último, estou com o novo hobbie de fazer um podcast simples, em parceria com um amigo. Às vezes estou entediado ou triste, e me divirto fazendo as perguntas e respostas nos stories. Até aí acredito que a minha descrição seja a mesma das de milhares.

O ponto a que quero chegar – e que também deve ser a descrição de milhares –  é um dos frutos da pandemia que vivemos, para variar (e agravada para nós, brasileiros). Contato humano faz bem, e é inerente a nós. Distâncias foram encurtadas pelo simbolismo das trocas não físicas, e essa dimensão ressignificou-se em função desse novo caos.

Então, sinto um vazio quando faço uma revisão do que é a minha rede social. Quase não há trocas verdadeiras, orgânicas. Conversas genuínas foram trocadas por reações ou flertes dos mais baratos, além de perguntas do perfil “entrevistador” ou “fã”. Digitar qualquer coisa é tão leviano quanto bocejar. Mesmo virtualmente é possível sentir a companhia que alguém, em menor escala. O inbox das redes, porém, quase não oferecem um sinal disso: muitas vezes, de alguma forma, até mesmo o oposto. Isso é um sintoma geral, para o qual não há culpas individuais (com eventuais exceções): somos todos os dias drogados para permanecermos assim; e quando nos damos conta dos sintomas, o enfermeiro entra dá uma nova dose da substância. Somos reféns de nosso próprio tempo, e mesmo que nos libertemos, não deixaremos de estar cercados por esse tipo de atitude zumbi dos contemporâneos. A capacidade de se comunicar não torna a troca rica ou memorável.

Em outras palavras, talvez as redes sociais funcionem como um diário, em que você desabafa consigo mesmo e se incentiva de seus próprios sonhos; mas você está sozinho. Talvez, se postar uma foto bonita ou sensual, consiga uns abutres carniceiros pelo tempo que a publicação for relevante. Pessoas? Nenhuma. Às vezes nós mesmos somos os abutres, às vezes somos a carniça; até o momento que tornar-nos-emos ambos. Assim, começo a pensar em mim como uma logomarca de um produto ruim; e não há nada mais século XXI do que isso.

No fim – e posso estar enganado –, talvez ainda valha a pena usar as redes como esse diário, ou como forma de, entre milhares de visualizações, alcançar pelo menos aquela meia dúzia que realmente gosta de você; quando não estiver no humor de falar com um a um no WhatsApp. Portanto, ora um diário pessoal, ora um jornal (porém, contaminado pela nova mutação do vírus das fake news), ora um fundo de quintal onde você deixa coisas importantes que não deseja utilizar agora.

Dispenso sermões dos tiozões nostálgicos quanto ao século passado. Aqui, inclusive, desejo recorrer à diferença entre História e Memória, um dos primeiros e melhores conceitos que adquiri em minha graduação. Temos, naturalmente, tendência a nos basearmos na segunda; mas é a capacidade de raciocínio do ser humano que nos permite recorrer à primeira. Não se trata de chorar, porque “no meu tempo era melhor” (mas sempre vale a pena dizer isso de forma irônica), mas de saber como consertar os defeitos das novidades que vieram em massa nos novos tempos. Afinal, toda invenção passa por inovações, e o inventor nem sempre se encarregará de inovar; mas outros farão esse papel. Assumir a noção de que as redes sociais estão fadadas a essa zona cinzenta é como supor que daqui a cem anos estaremos usando os mesmos tipos de aviões ou combustíveis.

O primeiro efeito desse surto de informações é a liquidez (termo a que já estamos cansados de recorrer) e falta de compromisso/apego com qualquer coisa; mas muitas vacinas dão um ou outro efeito colateral nos primeiros dias. Depois, a calmaria.

Boa sorte a todos.

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