Uma breve passagem pela Trindade Canônica do Deus do Trovão



Os últimos anos têm sido agitados para o Deus do Trovão. No principal veículo atual dos personagens da Marvel, o Cinema, ocorreu em 2017 a reviravolta daquele que era considerado um dos vingadores mais desinteressantes e mal trabalhados (o fato de até então possuir dois filmes solo tornava tudo mais ultrajante). Thor Ragnarok veio para deixar o passado para trás, abrigando a dicotomia de encerrar a franquia (até então todas as franquias solo se encerravam nos terceiros filmes) e renová-la. Desde então, a popularidade do personagem multiplicou-se ao ponto de ser considerado o melhor herói do MCU, para muitos. Em Ragnarok e Guerra Infinita o filho de Odin chegou em seu ápice, enquanto em Endgame veio o seu período de luto e absorção de todas as tragédias que têm ocorrido ao personagem desde o seu renascimento. Período de luto este que não o impediu de brilhar em termos de gargalhadas e de arrepios, respectivamente ao longo do filme e em seu terceiro ato.

A ascensão do personagem na mídia cinematográfica torna oportuno um passeio por sua trajetória nos quadrinhos (já estava prestes a chamá-los de “sua mídia de origem”, mas não é exatamente o caso, não é mesmo?). Assim como Chris Hemsworth já foi sério/bobo, usou sobrancelhas descoloridas, cabelos longos/curtos/sujos/limpos, barba de fim de tarde/com tranças nórdicas, barriga tanquinho/de chopp, etc.; o personagem impresso também teve fases muito distintas. Isso vale para todos os personagens de quadrinhos, pois cada autor quer deixar a sua marca, muitas vezes levando as histórias para direções completamente distintas. Os acertos costumam vir do equilíbrio em modificar a trajetória das histórias sem desconsiderar e sem repetir o que foi feito de melhor por outros.

A série principal do Thor conta com mais de setecentas edições, pelas quais passaram inúmeros autores. Nessa gama, a dupla original Lee/Kirby (e Lieber) tem importância onipresente, pois sem eles nada do que veio a posteriori existiria da forma que se deu. Ambos não apenas criaram o conceito básico (da história e dos designs) dos principais personagens, mas de toda uma mitologia extensa, que serviu de material para - literalmente - qualquer equipe criativa posterior. Assim, é mais oportuno falar dos principais autores a partir de então: Simonson, Straczynski, e Aaron.



Walter Simonson é o responsável pela fase mais nostálgica do Deus do Trovão, após a Era de Ouro. O seu período à frente do título chamou atenção por diferentes motivos. Em primeiro lugar, o autor já se interessava por mitologia nórdica. Conheceu os quadrinhos da Marvel por causa de uma edição do Thor, e este tornou-se o seu herói favorito. Devido a essa paixão, escreveu e desenhou a sua versão antes mesmo de ser contratado pela editora, anos depois. Parte da história e dos quadros desenhados foram reaproveitados, quando assumiu o título. Em segundo lugar, inicialmente entrou em cena apenas como desenhista. Contudo, em 1983 foi convidado por fulano a roteirizar ou continuar a desenhar a HQ, e levou isso ao pé da letra, assumindo as duas funções. Por fim, chama atenção a marca que Simonson deixou no arco do personagem em si, misturando elementos próprios (como a criação de Bill Raio Beta e o Thor Sapo) com uma aproximação mais cuidadosa das histórias com a mitologia nórdica.

Então, foi uma surpresa boa demais descobrir um quadrinho baseado em uma das figuras principais daquelas velhas histórias. Eu devorei aquela história e não vi problema algum nas diferenças que encontrei entre os mitos originais e o Thor desta cultura pop. Cabelos loiros, sem barba, nada de Cinturão de Força ou Luvas de Ferro, e uma alça comum em Mjolnir? Quem se importava? Eu não estava procurando histórias que já havia lido nos livros. Eu estava descobrindo um mundo novo! (SIMONSON, Walter. 2011)

Exemplo desses elementos é a história de The Mighty Thor 342 e 343, de um último guerreiro viking (Eilif, o Perdido), que encontra-se muito velho e não deseja morrer de forma natural, mas sim vítima de uma luta digna com um de seus deuses. O guerreiro - em pleno século XX - permanece fiel a essa cultura e crença, pois, há muitos séculos, um pequeno grupo de vikings formou uma aldeia escondida em um vulcão adormecido, alheia ao desenvolvimento do mundo externo. O conceito do guerreiro idoso que deseja morrer logo não só é verídico historicamente, como foi retomado em um episódio de 2013, da série Vikings. Thor recusa-se a matar o ancião, e clama a Odin que forneça a ele os meios (armas, montaria, armadura) necessários para acompanhar Thor em uma última batalha, contra o dragão Fafnir. Após realizar o pedido de Asgard, Odin deseja conferir o guerreiro com os próprios olhos. A questão é que Simonson o retratou disfarçado de modesto viajante, trajando uma longa capa e chapéu azuis. Em muitas passagens das baladas Vafþrúðnismál e no Grímnismál, Odin caminha em Midgard sob o mesmo disfarce. Em passagens simples e imperceptíveis aos leitores que desconhecem detalhes da mitologia em questão, percebemos o carinho de Simonson pela mesma. 


Outro detalhe semelhante é o uso que o autor faz de Valhalla. Em vez de apenas citá-la despretensiosamente (como qualquer autor que deseja estabelecer a conexão do herói colorido dos quadrinhos com a cultura que o originou), abordou os guerreiros tombados com glória (chamados Einherjar, recolhidos pelas Valquírias para Valhalla) de forma direta, como exército solicitado por Odin para auxiliar as forças asgardianas na defesa de Midgard e da própria Asgard, devido à extensão das forças de Surtur, que almejava iniciar o Ragnarok. Para não nos demorarmos por demais nestes exemplos, um último: Hlidskjalf, o trono de Odin, por onde este consegue avistar todos os Nove Reinos. Simonson não apenas o cita, como o mostra, na passagem em que Odin Thor e a si mesmo a Bill Raio Beta:

Então, segui-me ambos montanha acima. Discutiremos a questão em Hlidskjalf, o trono absoluto! Atenta para minhas palavras. Eu sou Odin, filho de Bor e neto de Buri, bem como o senhor de Asgard. Este é meu filho, Thor. Desde a aurora do tempo, ninguém além de nós dois ergueu Mjolnir, o martelo encantado. Até hoje. Senta conosco, forasteiro, e fala-nos de ti. (BORSON, Odin. The Mighty Thor 338)

Nesta passagem, fica clara a magnificência do Pai de Todos de Simonson, como não poderia deixar de ser. Contudo, há autores que o retratam de forma mais inflexível, arrogante. Além de tratá-lo de forma distinta ( com nobreza, dignidade e humildade mais acentuadas), o autor tem algo a falar sobre versões anteriores:

[...] meu filho lutou sob as amarras de um encantamento que eu mesmo criei anos atrás… Aplicando-o neste mesmo martelo. Naqueles dias, Thor era orgulhoso e obstinado. Decidi ensinar-lhe uma lição de paciência. Vítima de meu próprio orgulho, elaborei uma magia em torno do martelo. Tu o vês agora inscrito no malho. Mal sonhei que outro além de Thor seria digno deste terrível poder. No entanto, equivoquei-me e agora estamos diante de um dilema… demonstrando que tu, meu filho, não foste o único merecedor de uma lição de humildade (BORSON, Odin. Idem)

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As mesmas características nobres valem para o protagonista, mas o Thor da Marvel sempre foi escrito dessa maneira, em contraste com a figura mitológica. O que o autor fez foi mesclá-las a certa dose de humor (não acentuado como o de Chris Hemsworth e Taika Waititi, porém), como o exemplo de Loki transformar o irmão em sapo (não por tão breve momento, e sim ao ponto de ocupar páginas e páginas de história, com as falas (e, portanto, a consciência) escritas normalmente. Contudo, talvez o maior destaque humorístico seja o disfarce de Thor. O herói, desde a sua primeira aparição, atua no dia a dia de Midgard como o doutor Donald Blake. Uma das inovações de Simonson foi encerrar esse encantamento, após a conclusão do arco inicial de Bill Raio Beta. Agora, Odinson vive na Terra sob a identidade de Sigurd Jarlson, criada pelo líder da SHIELD. Fury consegue para Sigurd um emprego em uma construtora, e monta o seu visual terráqueo. A questão é que, para que ninguém o reconheça através de seus longos cabelos loiros e de seu corpo colossal, Fury coloca um óculos em seu rosto. Não bastasse a piada explícita em si, Sigurd tromba por acidente com um repórter chamado Clark, coincidentemente muito parecido com o Superman. No dia a dia ninguém em Nova Iorque o reconhece.

Até hoje a era de Simonson é lembrada lado a lado com a de Stan Lee e Jack Kirby, mas logo atrás vem a era contemporânea de Jason Aaron. Antes disso, contudo, Thor teve de voltar da morte, após a concretização do Ragnarok. É a fase de Joseph Michael Straczynski. Após um run duvidoso pela série do Homem-Aranha, coube a JMS (mais fácil assim, não?) reinventar um herói que não aparecia nas páginas há uns anos. A premissa inicial de seu arco é bem simples: “Não cabe aos deuses decidir se o homem existe ou não… cabe ao homem decidir se os deuses existem ou não. E, por você ser tão importante… tão necessário… seu tempo ainda não terminou” (Thor 1, 2007). Assim, Thor foi convocado por Donald Blake a deixar o limbo em que se encontrava após o fim dos asgardianos. 


Essa é apenas uma premissa básica para trazer um herói morto de volta, muitíssimo (até demais) comum nos quadrinhos. O que tornou a trajetória do Thor de JMS tão diferente foi o fato de Thor - agora com a Força Odin - reconstruir Asgard nos Estados Unidos, em Oklahoma. Absurdamente diferente de Asgard e da própria Escandinávia, a região é excessivamente quente; e isso é usado de maneira proposital na história. Com Odin fora de cena, Thor é o soberano, e cabe a ele trazer todo o seu povo de volta. Cada asgardiano encontra-se com a alma aprisionada em algum mortal, normalmente por algum vínculo (experiências passadas, semelhanças emocionais, etc.). Inicialmente o Deus do Trovão vai trazendo um a um, buscando-os ao redor do globo (engenhosamente, os Três Guerreiros encontravam-se unidos no contexto das guerrilhas tribais africanas). O autor trabalha bem o medo do soberano de trazer todos de volta. Thor seleciona quem quer de volta, e por isso traz os colegas individualmente. Por fim, deixa esse calculismo de lado e resgata a população simultaneamente (quase morrendo no processo). 

O seu medo não é só trazer de volta inimigos, mas sim o próprio pai. O filho não quer cometer os mesmos erros do pai, e também não o quer de volta para que os cometa por conta própria. Destaca-se o diálogo de Odin com seu filho, em que as contas são acertadas sobre o passado distante. Por fim, Thor deseja trazê-lo de volta, mas o antigo regente de Asgard decide ficar no limbo, para proteger os ressuscitados de forças ocultas, como a velha alma de Surtur. No entanto, regozija-se da reviravolta nas intenções do filho e ficam em paz. 

Dois outros destaques do run de Straczynski são mais uma aproximação dos quadrinhos com a mitologia, bem como a versão feminina (e perturbadora) de Loki. A aproximação consiste na revelação de que Balder é irmão de Thor. Assim sempre foi na mitologia nórdica, mas a Marvel os retratava como melhores amigos. O autor revelou que a mentira sobre a linhagem de Balder deu-se como forma de proteção de Odin ao filho que desencadearia o Ragnarok, com sua morte. O corpo feminino de Loki era, na verdade, Lady Sif. Enquanto isso, a alma de Sif encontrava-se dentro de uma idosa em estado terminal, sendo acompanhada por… Jane Foster. O autor separa claramente os romances em Thor/Sif e Blake/Foster, trazendo um pouco de simplicidade a essa confusão de ressurreição. Em resumo, é um Thor já muito diferente do tradicional, que havia preenchido as páginas até então. Mesmo visualmente o Deus do Trovão encontrava-se ligeiramente diferente, já com a malha de aço nos braços (e coxas, diferentemente dos filmes). As cores foram simplificadas em preto, prata e um pouco de dourado; o elmo e o cabelo foram um pouco reduzidos. Além do retorno do personagem, o maior legado desse período é - sem sombra de dúvida - a incrível arte do francês Olivier Coipel. Até hoje, é essa imagem que os leitores dos quadrinhos contemporâneos têm do herói. Em ocasiões importantes, o artista é convidado até hoje para desenhar o asgardiano.


O fim da história iniciada por Straczynski deu-se com a saga de Brian Michael Bendis (que marcou história pelos seus longuíssimos anos à frente do título dos Vingadores), O Cerco, de 2011. Contudo, JMS saiu do título solo de Thor antes disso, deixando a tarefa de preencher a lacuna com Kieron Gillen. O título da saga refere-se ao cerco de Asgard, pelas forças da extinta SHIELD, então batizada MARTELO. No lugar de Nick Fury e Tony Stark encontrava-se Norman Osborn, com a armadura do Patriota de Ferro (que veio muito antes de James Rhodes, para quem só acompanha o MCU). Por fim, o reino foi destruído. Encerrava-se o arco de Oklahoma.

O autor que mais “brincou” com o personagem no século XXI, porém, foi Jason Aaron. À frente do título desde 2012, inovou com a reinvenção do vilão Gorr, o Carniceiro dos Deuses. Porém, marcou mais época a partir de 2014, como ramificação da saga (também de Aaron) Pecado Original. Ao contrário de fases como a de Simonson (de tempos mais simples), a de Aaron sofreu do vício contemporâneo das histórias em quadrinhos: zerar continuamente a numeração das séries mensais. Assim, Aaron escreveu as séries Thor: God of Thunder (2012), Thor (2014), The Mighty Thor (2015), Unworthy Thor (minissérie de 2017), Thor (de novo; de 2017). Não estão sendo consideradas edições especiais avulso, ou tie-ins com sagas Marvel (como Pecado Original e Guerras Secretas). 

Por ser uma fase ainda vigente, será aqui discutida de forma mais geral. O ponto inicial de maior destaque da era de Aaron é a segunda da lista, de 2014. Nela, seguindo os eventos de Pecado Original, o Mjolnir cai na nossa Lua, depois de Nick Fury sussurrar para Thor que “Gorr estava certo”. Gorr, o Carniceiro dos Deuses, foi um oponente da primeira série da lista, e seu objetivo era eliminar todas as divindades do plano existencial. O vilão acreditava que os povos estariam melhor sem as criaturas mesquinhas que são os deuses. Ainda na primeira série, Thor matou Gorr, mas o questionamento do vilão ocupava o subconsciente de Odinson. No fundo, Thor concordava com o adversário. Quando Fury sussurrou as palavras explícitas, tudo veio à tona, e o Deus do Trovão deixou de ser digno. A partir de então, Jane Foster tornou-se a nova Thor. Apesar das críticas de alguns, não foi a primeira vez em que algo do tipo aconteceu. Os dois principais exemplos anteriores são o supracitado Bill Raio Beta (o maior legado de Simonson) e Eric Masterson, o Trovejante. Ambos ergueram Mjolnir e o usaram por algum tempo (o segundo muito mais do que o primeiro), posteriormente recebendo seus próprios martelos.

O trunfo da Jane Foster com o poder de Thor é justamente o fato de ser não só uma mortal, mas uma que nunca lidou diretamente com quaisquer poderes super humanos. Tudo era novidade, ao contrário do deus que mal se impressionava com as adversidades de sua vida de guerreiro e vingador. Os maiores motivos de comparação com o passado, porém, são Thor e Odin. Este foi escrito como - utilizando o melhor dos termos - um babaca. Após um auto-exílio do Pai de Todos, sua esposa, Freya, assumiu o governo de Asgardia (a original Asgard foi abandonada, e agora o povo asgardiano vive na cidade de nome semelhante). Assim, assumiu o título de Mãe de Todos. Após retornar, Odin almeja retomar o seu lugar no trono, mas sua esposa não tem intenções de deixar. 

Assim como no arco de Straczynski, o governo de Odin é tratado por Aaron como antiquado. Esta versão do personagem é intensamente arrogante, machista e de temperamento muito forte. É claro que, como herança da mitologia nórdica e das próprias décadas em que foram escritas, todas as histórias do Thor tiveram elementos questionáveis, no que diz respeito ao machismo. Contudo, sempre esteve lá de forma imparcial (ou parcial para o bem), nunca antes trabalhado de forma tão decidida. A todo momento o autor nos cutuca com a relação de marido e mulher dos dois regentes. Um exemplo disso é que Thor estava na Lua há semanas, tentando erguer o martelo e conversando com o mesmo. Quando Freya diz que Thor não falará com ninguém, Odin a provoca, afirmando que talvez o filho só não queira falar com ela, e que com certeza conversará com o pai. Após gritar com o filho, a mãe sugeriu que o pai deveria parar de gritar, para variar. A resposta de Odin foi que Freya preferiria que Odin mimasse o garoto, como ela estava fazendo durante todo o tempo, e que essa era a causa de todo aquele mal. A diferença entre o Pai de Todos se Simonson e de Aaron é descomunal.


Já Thor, agora chamado Odinson (pois deu de presente o próprio nome a Jane Foster), foi a maior mudança do autor. E, apesar de a série principal ser protagonizada por Jane, as consequências para o Deus do Trovão original podem ser consideradas o maior legado da fase. Sempre muito nobre e… digno, Thor também sempre foi um personagem difícil de se escrever. É exatamente por isso que sempre existiram contrapartes humanas/mortais, como Donald Blake ou Jake Olson; bem como o vasto elenco de apoio que Asgard proporciona. Aaron, porém, jogou o personagem no fundo do poço. Trabalhou em cima de todas as suas inseguranças e medos, em cima do que aconteceria se todos se concretizassem. Ao longo de sua imortalidade, durante todas as manhãs de sua vida, Thor encarava o martelo por horas. Tinha medo de levantar-se e segurá-lo, pois em cada novo dia, poderia descobrir que não é mais digno. Quando isso finalmente aconteceu (sem ser por nenhuma decisão de seu pai, e por tempo muito mais longevo), o autor revelou a todos que Odinson tornar-se-ia um indivíduo depressivo e agressivo. Esta versão do herói não possui nenhuma das características que define tal adjetivo. Sem dormir por quase um ano, e viciado em bebida (como em Endgame); o deus luta de forma muito mais visceral, até mesmo mordendo oponentes. Além disso, perde. Algo que raras vezes as versões anteriores do personagem testemunhavam era a derrota. Aqui, Odinson é apagado pelos adversários a todo momento. Ao ser preso pelo Colecionador, libertava-se das grades e correntes em todas as manhãs, e lutava até perder. No dia seguinte, o processo se repetia, e assim foi por muito tempo. 

Em Unworth Thor, nesse aprisionamento na nave de Taneleer Tivan, o mesmo adota o visual que viria a ser conhecido no cinema: cabelo curto e barba. Apesar de a história haver sido publicada antes do terceiro filme, é evidente que foi a pedido da Marvel, para que os quadrinhos acompanhassem as telonas. Contudo, a história em nada se altera, e não se pode dizer que foi escrita devido a nenhum filme. Talvez a mais marcante mudança física tenha sido o braço de Uru Negro (Uru é o mesmo material do Mjolnir), após ter o original decepado por Malekith (que, escrito por Aaron, humilha a versão cinematográfica, presente no segundo longa). Mais mudanças vieram na saga de 2019, War of Realms, mas esta ainda é muito recente para ser discutida em detalhes por aqui (nem sequer foi lançada no Brasil). 


De forma geral, Aaron trouxe a noção de que Thor é um título, não um indivíduo. Além da Thor Jane Foster, Volstagg ergueu o Mjolnir de uma realidade alternativa (o universo Ultimate, que deu origem a Miles Morales e o Nick Fury com feição de Samuel L. Jackson) e tornou-se o Thor da Guerra (com mais personalidade do Thor mitológico do que o original da Marvel). Contudo, como tudo nos quadrinhos, Odinson tornou a ser o único e verdadeiro Deus do Trovão, provando que o nome talvez não seja tanto assim um título, “foi só uma fase”. Esta fase, porém, deu muita bagagem para aquele que era quase intocável. Se algum autor irá desfazer tudo isso no futuro, não sabemos. De qualquer maneira, cada leitor constrói o imaginário canônico que deseja, em um universo tão confuso de linhas temporais. Mas é certo que qualquer cânone que se preze (a partir do ponto inicial da era de Lee e Kirby) deve levar em consideração o legado dessas três eras.

Lucas Giesteira

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