O papel da Ciência em Max Weber
O debate acerca da função social da ciência se concentra em Weber, mais especificamente em A Ciência como Vocação. Para Weber, as dimensões existencial e profissional do cientista entrelaçam-se constantemente em seu ofício, pois não há separação entre a ciência e sua vida pessoal. O fazer científico pressupõe subjetividades que escapam à burocratização do conhecimento, como a criatividade e a intuição. O autor, portanto, afasta-se de uma visão objetivizante sobre a ciência. Aí se insere a sociologia compreensiva de Weber, que não só reconhece a existência das dimensões subjetivas tanto do investigador quanto do objetivo a ser investigado, como as reconhece como fundamentais. Discorda de uma visão objetiva que vise atingir a verdade científica através da eliminação dessas dimensões, pois a mesma se mostra impossível diante do devir histórico-social. É pela combinação entre a visão unilateral decorrente da vida pessoal do cientista e esse devir que não há como não se afastar de uma interpretação definitiva da realidade sempre infinitiva, inesgotável. A eterna superação do conhecimento científico é, desta forma, conditio sine qua non de sua existência. (Lazarte - Max Weber: Ciência e Valores).
Essa realidade, para Weber, não pode ser essencialmente reduzida em leis. Ele entende a utilidade da formulação de leis como construções conceituais facilitadoras, como meios de se demonstrar ideias, mas não como a realidade empírica em si mesma. Conceitos generalizantes seriam como um “recipiente provisório” para “descrever provisoriamente uma pluralidade de fenômenos particulares” (Weber, 1985a: 14)”. Em A objetividade do conhecimento na ciência social e na política social o autor formula o seu conceito de “tipo ideal”, que une a riqueza da empiria à abstração conceitual da ciência social. Não pretende conter a realidade, mas representá-la de forma a ser eventualmente superada por novos conceitos que acompanhem as mudanças histórico-sociais.
O conceito de “tipo ideal” refere-se à construção de determinados aspectos da realidade numa concepção logicamente precisa. A palavra “ideal” não é qualitativa, não se dá em nenhuma espécie de avaliação, seu uso apenas tem finalidades analíticas. Gerth e Mills (1982) definem que “a abordagem quantitativa de constelações culturais excepcionais e a concepção dos tipos ideais estão intimamente ligadas ao método comparado, que implica que duas constelações são comparáveis em termos de alguma característica comum a ambas”. Para estabelecer e utilizar essas características comuns deve-se recorrer ao uso de conceitos gerais, os tipos ideais. Eles são as ferramentas que Weber utiliza para preparar o material descritivo da história da humanidade para análise comparada.
O teor objetivo para ele se mostrava na necessidade de se investigar e resolver problemas e situações concretas, em vez de se discutir epistemológica ou metodologicamente o conhecimento científico. Estes só se mostravam necessários quando determinada ciência passava por momentos de mudança no campo das ideias valorativas e de método. “[...] apenas delimitando e resolvendo problemas concretos se fundamentaram as ciências, e somente assim desenvolveram seu método; as reflexões puramente epistemológicas ou metodológicas, ao contrário, jamais contribuíram decisivamente para tal (Weber, 1973b: 104 / citado no livro de Rolando Lazarte - Max Weber: Ciência e Valores)”. O desprezo por quaisquer elementos metafísicos nas Ciências Sociais dava-se pelo seu apego ao pensamento positivista, de acordo com Gerth e Mills. Desejava dar a elas a mesma praticidade com que era feita a abordagem das Ciências Naturais.
Dessa forma, o conhecimento científico encontra-se cercado por três limites, como resume Lazarte. O primeiro é a distância entre o conceito e a realidade empírica encontrada. O segundo é a limitação própria em que o cientista social encontra-se a partir de sua vivência. A compreensão só é absorvida até onde o universo valorativo do sociólogo permite. O terceiro limite constitui-se dos valores que permeiam a sociedade de determinada época e que dão sentido à existência dos contemporâneos. É aí que Weber trata do “desencantamento do mundo”.
O termo foi utilizado ao longo da conferência A ciência como vocação (Munique, 1917), posteriormente redigida e publicada pelo próprio Weber. A partir de então passou a ser visto como um dos mais importantes aspectos da modernidade. Conforme dissecou Antônio Pierucci (O Desencantamento do Mundo, p. 7), a tradução estrita da expressão original em alemão (Entzauberung) seria “desmagificação”, e possuiria dois sentidos coexistentes ou alternados. O primeiro significado seria o modelo de racionalismo da modernidade, e o segundo consistiria em um diagnóstico da época, pessimista, a perda de sentido. Em outras palavras, o primeiro significado seria uma conceituação estrita, um fato em si, sem juízo de valor, enquanto o segundo seria uma visão qualitativa que designa a perda de sentido (o primeiro seria um conceito produtivo e o segundo um conceito crítico).
A questão do sentido da ciência perde o seu chão, pois a mesma nada tem a dizer a seu respeito. A ironia é que ela almeja tudo decifrar, mas não pode determinar nenhum valor. Tolstói indaga “qual é, afinal, o sentido da ciência como vocação? [...] Ela não tem sentido, já que não consegue responder à indagação que realmente nos importa: que devemos fazer? Como devemos viver?” (Ciência e Política: duas vocações, 35-36).
Pierucci afirma que a ciência desvenda a “objetiva” ausência de “sentido objetivo” do mundo natural e da existência humana, ironicamente. Para ela, a verdade objetiva natural é mais importante do que preceitos éticos. Em Consideração intermediária Weber já havia elucidado esse contraste: “O cosmos da causalidade natural e o pretendido cosmos da causalidade ética compensatória mantiveram-se numa oposição irreconciliável. E embora a ciência, que criou aquele cosmos, parecesse não conseguir dar uma explicação segura de seus próprios pressupostos últimos, arvorou-se em nome da ‘honestidade intelectual’ com a seguinte pretensão: ser a única forma possível de consideração pensante do mundo”.
Na conferência de 1917 Weber pergunta-se “Quem ainda hoje continua a acreditar que os conhecimentos da astronomia, da biologia, da física ou da química pudessem nos ensinar algo sobre o sentido do mundo, ou tão-somente pudessem nos apontar as pegadas de tal sentido, se é que isso existe?”. Em dado momento o autor chega a qualificar a ausência de sentido como “sempre mais aniquiladora”. As visões de mundo só dão sentido porque não são científicas (Pierucci, p. 154). O conhecimento científico se dá sem levar em conta qualquer fim último, e mesmo assim progride sem parar, de forma inerente, faz parte de sua natureza. Contudo, não tem um paradeiro. Seu progresso se dá no sentido técnico. A sua natureza é crescente e unidirecional, de autosuperação contínua; mas provisória, limitada, recortada; e portanto parcial. Para Weber, esse é grande o problema de sentido da ciência. Esse pensamento dos limites da ciência é baseado em Kant, em que os pressupostos das ciências naturais carecem de sentido.
O problema da ciência na modernidade é que a mesma retirou o sentido do mundo, mas não colocou outro em seu lugar; e devido à sua natureza progressista e de autosuperação, o dano é irreparável, e termina por não apenas desencantar o mundo, mas a si mesma. Pierucci afirma (p. 159) que “ o mundo que criamos com o trabalho, a ciência e a tecnologia resiste a todo projeto de reencantamento metafísico da Totalidade”.
O desencantamento do mundo consiste na possibilidade de dominação através do cáculo (durch Berechnen beherrschen), deixando o mistério e a mágica de lado. Weber cita o exemplo de um cidadão que não seja um físico e que portanto não entende em detalhes como o carro se move, enquanto um selvagem tem total conhecimento de como utilizar as suas ferramentas (Max Weber: Ensaios de Sociologia, p. 165). O objetivo é afirmar que a racionalização não indica um maior conhecimento das condições em que vivemos, mas o fato de que poderíamos tê-lo, se desejássemos. Recorre então a Tólstoi, que contrapunha a morte para um camponês do passado e para o homem moderno. O camponês morria saciado da vida, que lhe dera tudo o que tinha a oferecer, sem mais enigmas. O homem moderno nunca poderá saciar-se, sempre haverá algo para se descobrir, algo para ser feito. A vida do segundo, portanto, é sem sentido, pois a morte não tem significado, é apenas um empecilho.
O homem moderno está “destinado a viver em uma época sem deus e sem profetas, os valores essenciais e mais sublimes se retiraram da vida pública para refugiarem-se no reino transcendente da vida mística ou na fraternidade de relações humanas diretas e pessoais (Weber, 1974a: 188-190 / citação em Lazarte)”.
Para Weber “a realidade é um contínuo fluir, irracional, caótico, de acontecimentos e processos, que ocorrem simultânea e sucessivamente, tanto ‘dentro’ como ‘fora’ de nós mesmos. São nossos interesses e pontos de vista que cortam parcelas desse fluir e emprestam-lhe significação” (Lazarte).
Em A ciência como vocação, no mundo moderno, desencantado pela racionalização crescente, deuses e demônios não mais disputam a alma do homem. “Devemos trabalhar e satisfazer as ‘exigências do momento’, nas relações humanas bem como na nossa vocação. Isto, contudo, resulta simples se cada um descobrir e obedecer ao demônio que sustenta os fios da sua própria vida (Weber, 1975a: 192)”. A ciência não pode preencher esse vazio na alma humana, não deve haver pretensões de instituir códigos valorativos universalmente válidos. Cada um deve descobrir e obedecer ao “demônio que sustenta os fios da sua própria vida” (relação com a máxima socrática “Conhece-te a ti mesmo”).
Em outras palavras, Weber sugere que o homem moderno busque o seu interior (individualmente), sempre ofuscado pela tendência atual exteriorizante, objetivizante e massificante. Neste caso o autor aproxima-se de Nietzche. Não se trata, porém, de considerar a ciência indiferente com relação aos imperativos éticos da conduta humana, mas sim de desejar para os atores sociais liberdade em suas escolhas. A sociologia compreensiva propõe-se a ajudar o homem nessa escolha (para que perceba o significado de suas ações), mas não deve decidir por ele. “Uma ciência empírica não pode ensinar a ninguém o que se deve fazer, mas apenas o que se pode fazer e, em certas circunstâncias, o que se quer (Weber, 1973a: 44)”.
Quando Weber inicia a conferência, começa por colocar o papel da ciência em seu sentido material, perguntando-se quais eram as perspectivas para o estudante formado que resolvesse dedicar-se profissionalmente à ciência na vida universitária, tanto na Alemanha quanto nos Estados Unidos, comparando-os.
Na Alemanha, a carreira do jovem que se dedicasse à ciência começava com o posto de Privatdozent, lecionando inicialmente como residente, sem receber qualquer salário, além das taxas pagas pelos alunos que se inscrevessem. Nos Estados Unidos a carreira começava pelo cargo de assistente (remunerado). Na Alemanha era muito arriscado para um jovem professor sem recursos expor-se às condições da carreira acadêmica. Nos EUA, com o sistema burocrático, o jovem acadêmico era remunerado desde o início, com um salário modesto; mas começando com uma posição aparentemente segura, por ter um salário fixo. Outra diferença é que na Alemanha o Privatdozent geralmente ministrava menor número de cursos do que desejava, sendo o professor catedrático encarregado de ministrar os “grandes” cursos. Nos EUA, durante os primeiros anos de sua carreira, o assistente se via sobrecarregado exatamente por ser remunerado. Weber afirma que a posição de assistente era tão precária quanto a de qualquer “quase-proletário”; e a vida universitária alemã passava por um processo de “americanização”, e salienta o problema da entre o chefe das grandes empresas universitárias e o antigo professor catedrático.
Weber já chamava a atenção para uma característica ainda atual no meio acadêmico, alertando que todos que se sentem atraídos pela erudição devem estar preparados e cientes de seu aspecto duplo. O cientista deve ter qualidades não só como erudito, mas também como professor, e ambos se dão de maneira separada, distinta: “Pode-se ser um intelectual de destaque e ao mesmo tempo um professor abominavelmente ruim” (Max Weber: Ensaios de Sociologia, p. 158). Aponta para o problema quantitativo da busca pelo maior número de alunos. Se determinada matéria é frequentada por maior número, não significa necessariamente que o professor seja melhor cientista ou educador que os das outras, mas não era assim que as universidades enxergavam. Se um um docente for um excelente erudito, mas mau professor, a carreira como erudito seria prontamente prejudicada; mas o que determina se é bom professor é o número de alunos, que pode se dar pelo próprio conteúdo matéria, ou pelo temperamento do educador. Dada tal situação para o ofício do cientista, Weber constatou através de sua vivência que poucos não ressentiram-se, e encontra a resposta na paixão e rigorosidade. Sem a paixão pelo conhecimento, mo autor acredita que não valeria a pena dedicar-se ao fazer científico. Contudo, a mesma não é suficiente para produzir resultados concretos. Auxilia inspiração, motor inicial, mas não a produz por completo. Em contrapartida, também não é o trabalho por si só que produzirá ideias do zero, mas a união entre entusiasmo e esforço. “As ideias nos chegam quando lhes apraz, e não quando queremos. As melhores ideias ocorrem ao fumarmos um charuto no sofá ou quando caminhamos por uma rua que sobe lentamente, não quando estamos pensando e procurando em nossa mesa de trabalho. Não obstante, elas certamente não nos ocorreriam se não tivéssemos pensado à mesa e buscado respostas com dedicação apaixonada” (Max Weber: Ensaios de Sociologia, p. 162).
Há, contudo, sempre o risco de não ocorrer qualquer ideia valiosa, a despeito de o indivíduo ser um ótimo e esforçado trabalhador. Além disso, quem desejar dedicar-se à ciência deve estar pronto para o fato de que o seu trabalho tornar-se-á antiquado em poucas décadas (talvez menos). A própria natureza científica de suscitar novas perguntas leva os trabalhos a serem ultrapassados. Em outras, palavras, o cientista dedica a sua vida a algo inatingível, que jamais tem fim. Em seguida Weber indaga-se sobre o valor da ciência para a humanidade e contrasta o seu papel no passado e em seu presente (que permanece atual). Recorre à alegoria da caverna de Platão, encontrada no início do livro VII da República, em que um dos homens da caverna liberta-se das correntes e vê o sol. O sol seria a verdade, e o indivíduo seria o filósofo. O autor, então, tece uma crítica à ciência moderna, perdida em abstrações artificiais.
"Como ocorreu essa mudança? Na Grécia, pela primeira vez, surgiu uma forma prática pela qual era possível colocar os parafusos lógicos em alguém, de modo que não pudesse expressar-se sem admitir que nada sabia ou que isto, e nada mais, era a verdade, a verdade eterna que jamais desaparecerá, ao contrário dos feitos dos homens cegos, que desaparecem. Foi essa a tremenda experiência que se abriu para os discípulos de Sócrates. E disso parece seguir-se que bastaria descobrir-se o conceito adequado do belo, do bom ou, por exemplo, da coragem, da alma – ou qualquer outro – então para se aprender também o verdadeiro ser. E isso, por sua vez, parecia abrir o caminho para o conhecimento e o ensino de como agir acertadamente na vida e, acima de tudo, como agir como cidadão do Estado; pois esta questão era tudo para o homem helênico, cujo pensamento era totalmente político. E por essas razões as pessoas se dedicavam à ciência. O segundo grande instrumento do trabalho científico, a experimentação racional, surgiu ao lado da descoberta do espírito helênico, durante a Renascença. Sem ela, a ciência empírica hoje seria impossível." (Max Weber: Ensaios de Sociologia, p. ?).
Segundo o autor, da Vinci e outros grandes inovadores na arte foram pioneiros da experimentação, que passou à ciência, através de figuras como Galileu. A teoria foi alcançada através de Bacon. Para os artistas, a ciência funcionava como um meio de se atingir a verdadeira arte, a verdadeira natureza. Na modernidade isso soava uma ofensa. E então indaga-se quem ainda acredita que as descobertas científicas ensinam ou possam ensinar algo sobre o significado do mundo, sobre Deus ou nos mostrar o caminho para a felicidade - a felicidade genuína, que vai além do bem-estar físico trazido através da Medicina, por exemplo). E ainda, após retomar brevemente essa história da ciência, Weber retoma a pergunta central: "qual o significado da ciência como vocação" na modernidade, levando em consideração as mudanças pelas quais passou? Recorre mais uma vez a Tolstói: “A ciência não tem sentido porque não responde à nossa pergunta, a única pergunta importante para nós: o que devemos fazer e como devemos viver?" Fica claro que a ciência não dá essa resposta para o homem moderno, cujo desafio é estar à altura do trabalho cotidiano, e dessa fraqueza de não conseguir aprovar a seriedade dos tempos modernos nasce a exaustiva busca de "experiência".
Weber chama a atenção dos estudantes, pois a maioria procura no professor a figura de um líder, sendo que não só ambos são muito diferentes, como a grandissíssima maioria dos docentes não almeja assumir a posição de liderança e intervir em lutas partidárias. E os pouquíssimos que desejam, podem e devem fazê-lo fora da sala de aula, quando não estão em uma posição em que todos devem ouvi-lo e ninguém deve falar e possivelmente discordar. A "bronca", no entanto, visa ao retorno ao ponto inicial, a supracitada problemática da ciência como vocação.
"Primeiro, é claro, a ciência contribui para a tecnologia do controle da vida, calculando os objetos externos bem como as atividades do homem. [...] Segundo, a ciência pode contribuir com [...] métodos de pensamento, os instrumentos e o treinamento para o pensamento". Weber estabelece uma comparação com o verdureiro que vende repolhos a uma dona de casa; em que o primeiro é o verdureiro, e o segundo é o meio de se conseguir as verduras. Deixadas de lado as críticas sobre o atual estatuto da ciência, aponta aquilo que considera a sua verdadeira contribuição para a sociedade, adotando uma dose de otimismo.
"Felizmente, porém, a contribuição da ciência não alcança seu limite, com isso. Estamos em condições de levar-vos a um terceiro objetivo: a clareza. Na prática, podeis tomar esta ou aquela posição em relação a um problema de valor – simplificando, pensai, por favor, nos fenômenos sociais como exemplos. Se tomardes esta ou aquela posição, então, segundo a experiência científica, tereis de usar tais e tais meios para colocar em prática vossa convicção".
Surge então o clássico dilema: os fins justificam os meios? Cabe ao professor apresentá-lo aos seus alunos, mas não respondê-lo, caso deseje continuar como tal. Esse papel do professor configura-se em uma força moral, não cabe a ele esclarecer essas questões aos seus alunos, mas provocar o ele cumpre o dever de provocar o auto-esclarecimento, deixando de lado o desejo de impor ou até mesmo sugerir a própria posição tomada. E assim, Weber chega à sua conclusão a respeito dos limites da ciência, prestando seu serviço final à clareza. "Se formos competentes em nossa empresa, podemos forçar o indivíduo, ou pelo menos podemos ajudá-lo, a prestar a si mesmo contas do significado último de sua própria conduta. Isto não me parece pouco, mesmo em relação a nossa vida pessoal".
Se a ciência em si tem vocação, é algo que não cabe ao professor dizer em sala de aula. Essas passagens de Weber são significativas porque ele fala tanto de sua ideia subjetiva de ciência quanto de sua colocação prática para a profissão do cientista, e consequentemente do professor. Desta forma, não se perde em abstrações inúteis, ao mesmo tempo em que respeita todo o caráter subjetivo da discussão. O autor também deixa clara a sua posição contrária ao intelectualismo, e provoca os jovens estudantes, sugerindo que eles apenas imaginam ser contra.
Weber também reconhece que a contraposição entre passado e presente é natural. Se antes a ciência configurava-se em visões e profecias que prometiam revelações sagradas, ou em filósofos que contemplavam as verdades e significados do universo; agora é organizada e dividida burocraticamente em disciplinas a serviço do auto-esclarecimento e conhecimento de fatos inter-relacionados. Essa mudança é natural, inevitável da condição histórica em que a humanidade encontrava-se à época, e que ainda sobrevive na contemporaneidade.
"E se lembrarmos a questão de Tolstói: se a ciência não dá, quem dará resposta à pergunta 'Que faremos e como disporemos nossas vidas?'. Podemos dizer que somente um profeta ou um salvador podem dar as respostas. Se não houver tais homens, ou se sua mensagem já não for recebida com confiança, então, certamente não forçaremos o seu aparecimento nesta Terra, fazendo que milhares de professores, como assalariados privilegiados do Estado, tentem, como pequenos profetas em suas salas de aula, assumir tal papel. O profeta por quem, na nossa geração mais nova, tanto anseiam simplesmente não existe".
Nas palavras de Gerth e Mills: “As ações menos racionais são exemplificadas por Weber em termos da busca de ‘fins absolutos’, fluindo de sentimentos afetivos ou dos elementos ‘tradicionais’ (irrefletidos e habituais, sancionados porque ‘sempre foi feito assim’). Tais tipos de ações são construídos operacionalmente em termos de uma escala de racionalidade e irracionalidade. [...] Dando destaque à incompreensibilidade da conduta humana, em oposição à simples explicação causal dos ‘fatos sociais’ como ocorre na Ciência Natural, Weber traça uma linha entre sua Sociologia interpretativa e a physique sociale na tradição de Condorcet, que Comte chamou de sociologie (Philosophie Positive, vol. IV, p. 132) e Durkheim desenvolveu de modo tão destacado”.
Weber reconhece que o campo místico e profético que banhava civilizações inteiras ainda existe, mas no campo da vida privada, das relações pessoais. Individualmente muitos ainda cedem a superstições e esperanças no desconhecido, mas a vida pública é racional e laica, e consequentemente desencantada. Adverte para o perigo de se tentar racionalmente/intelectualmente criar uma nova religião, sem uma profecia autêntica, sob o forte risco de se criar uma monstruosidade. De forma semelhante podem ser criadas profecias acadêmicas, igualmente perigosas, fadadas a criar seitas fanáticas, sem nenhuma ligação comunitária autêntica. Não se pode forjar algo criado naturalmente no passado sem que com isso seja provocada uma deformação.
E para aqueles que não desejam viver o moderno e contemporâneo desencantamento do mundo, Weber oferece a opção do "sacrifício intelectual":
"Para quem não pode enfrentar como homem o destino da época, devemos dizer: possa ele voltar silenciosamente, sem a publicidade habitual dos renegados, mas simples e quietamente. Os braços das velhas igrejas estão abertos para eles. De uma forma ou de outra, ele tem de fazer o seu “sacrifício intelectual” – isso é inevitável. Se ele puder realmente fazê-lo, não o criticaremos. Pois tal sacrifício intelectual em favor de uma dedicação religiosa é eticamente diferente da evasão do dever claro de integridade intelectual".
Weber reconhece que o campo místico e profético que banhava civilizações inteiras ainda existe, mas no campo da vida privada, das relações pessoais. Individualmente muitos ainda cedem a superstições e esperanças no desconhecido, mas a vida pública é racional e laica, e consequentemente desencantada. Adverte para o perigo de se tentar racionalmente/intelectualmente criar uma nova religião, sem uma profecia autêntica, sob o forte risco de se criar uma monstruosidade. De forma semelhante podem ser criadas profecias acadêmicas, igualmente perigosas, fadadas a criar seitas fanáticas, sem nenhuma ligação comunitária autêntica. Não se pode forjar algo criado naturalmente no passado sem que com isso seja provocada uma deformação.
E para aqueles que não desejam viver o moderno e contemporâneo desencantamento do mundo, Weber oferece a opção do "sacrifício intelectual":
"Para quem não pode enfrentar como homem o destino da época, devemos dizer: possa ele voltar silenciosamente, sem a publicidade habitual dos renegados, mas simples e quietamente. Os braços das velhas igrejas estão abertos para eles. De uma forma ou de outra, ele tem de fazer o seu “sacrifício intelectual” – isso é inevitável. Se ele puder realmente fazê-lo, não o criticaremos. Pois tal sacrifício intelectual em favor de uma dedicação religiosa é eticamente diferente da evasão do dever claro de integridade intelectual".
Lucas Giesteira
Comentários
Postar um comentário