Conto: Funeral Celestial


O primeiro lamento dos anjos foi muito mais do que uma dor passiva. A ira estendeu-se por todo o ar, o desespero corria pela terra, e a tristeza afogava-se nas águas celestiais. 

A imortalidade costuma ser sonhada - ou ao menos muito refletida - por aqueles que não a possuem. É por isso que a religião sempre ocupou espaço central tanto na vida pública quanto na mais profunda individualidade da vida privada. Paralelamente, quando não se pensava religiosamente, a ficção (assumida como tal) tomava o seu lugar, daí tantas histórias sobre vampiros e outras criaturas que perpassam os séculos. Como tudo nesta realidade, é preciso adquirir a vida eterna para que o desencantamento venha como a cura desejada para qualquer hiperbolização que façamos do que não conhecemos. 

A velhice é um fardo que qualquer mortal carrega, pois a vaidade é o outro; ambos andam violentamente de mãos dadas, como gêmeos siameses que se odeiam. Nas histórias de vampiros, a imortalidade não assume sentido completo, consiste em vida eterna perante a imperecibilidade da pele e órgãos, e imunidade a doenças. Se um vampiro não enxerga mais felicidade em sua semivida, pode recorrer à luz solar, ou mesmo a estacas de madeira, balas de prata ou alho.

A imortalidade dessas criaturas da ficção, porém, é vista como uma maldição ou dádiva; algo que lhes foi concedido de forma externa - por alguma entidade ou força sobrenatural. Também os seres mitológicos que aqui se provam reais, como anjos e deuses pagãos, possuem imortalidade adquirida. Os primeiros tiveram-na concedida diretamente pelo próprio Criador, ao passo que os segundos adquiriram-na por razões secundárias. Quando se cria um universo de uma só vez, algoritmicamente, as probabilidades dão origens a todo o tipo de criatura. Se Deus houvesse moldado cada ser individualmente, poderia ter evitado a criação de rivais. É claro que, porém, só o são devido à condescendência Dele; da mesma forma que muitos humanos só não maltratam cães e gatos por afeto ou piedade. O Criador desejava acrescentar um toque de imprevisibilidade à sua obra, e o livre arbítrio permitiu aos anciões alcançarem o poder.

Em ambos os casos existe a luz solar que transforma vampiros em cinzas. Um anjo pode matar o irmão, um deus pode matar outro, assim como um anjo pode matar um deus, ou o contrário. Quando a onipotência faz parte de sua essência, não há perigo. É claro que tudo exige o seu sacrifício; onisciência, onipresença e onipotência consistem em uma nascente de sofrimento, fluem pelo rio da dor e desembocam na foz da tortura. Deus mantém constantemente - no mínimo - dois deles em repouso, para que possa aturar a vida eterna. Se necessário, porém, sofrer toda a angústia que resulta do uso dessa trindade, não hesitará em utilizá-la para defender a si mesmo e o seu reino. Ou hesitaria, melhor dizendo, pois Deus está morto.

Quando se é o ser imortal mais poderoso que existe não em uma, mas em quaisquer realidades (conceito que os mortais até hoje discutem sem entrar em quaisquer consensos), a única forma de morrer é o suicídio, evidentemente. A questão não reside aí, mas em como se suicidar, quando nada representa um perigo mortal. Para que um ser assim tire a sua vida, é preciso invocar os três atributos de modo a anular a própria existência. Em outras palavras, apenas o desejo de não mais existir pode "matar" Deus.

E assim aconteceu. Algo O desencantou, seja um fato concreto e isolado, seja o tédio misturado aos insistentes erros dos filhos mortais que habitam todos os seus planetas. Os anjos não sabiam o que fazer, se primeiramente deveriam prestar homenagens ao Pai Celestial ou decidir quem assumiria a liderança. Finalmente optaram pelo primeiro, após o que para os humanos seria equivalente a uns quatro meses. Curioso como esse tempo para os primeiros soa como o que leva para os segundos assistirem a um filme.

O desaparecimento do ser mais importante de todos já seria motivo para o mais superlativo dos lutos, mas acrescenta-se a isso a reencarnação do filho. Cristo optara por tentar mais uma vez apresentar-se em nosso mundo e mudar o rumo da humanidade. Já estava no quinto mês de gestação quando foi feita a cerimônia de adeus ao Pai. Nasceria em um bairro humilde de um país de terceiro mundo.

Uriel seguia a cavalo pelo planalto esverdeado - como a maioria das partes de seu lar - absorto em pensamentos aéreos. Andar sobre animais quadrúpedes de porte considerável é um hobbie em quaisquer lugares. O centro do reino, a cidade do trono, encontrava-se logo adiante, na mais impecável planície. A vista ali era linda até mesmo para os habitantes eternos. De um lado a cidade fazia fronteira com o Mar das Boas-Vindas, onde as almas finalmente completavam suas jornadas rumo à vida de regozijo eterno. Cada indivíduo em sua liquidez passava por um processo semelhante ao de vaporização, e só adquiriam uma forma densa ao atingirem a Floresta dos Regenerados, onde localizava-se a Fonte de Sanatomnia. No exato centro da área central do Paraíso havia uma torre cujo topo era inalcançável ao olhar, onde localizava-se o extenso trono - agora gelado - todo esculpido em pedra honokrif. Uriel desceu do cavalo ainda no planalto, e o deixou ali, aproveitando o infindável dia na pastagem local. Desceu vagarosamente até a cidade e atravessou a primeira metade à procura de Gabriel, que encontrava-se na construção ao lado da torre, uma modesta casa (para os padrões locais). Como não havia trancas em nenhuma porta, e sendo um amigo de milênios a fio, entrou sem bater. Encontrou o mensageiro no aposento principal, esculpindo uma estátua que representasse o Pai em seu funeral. 

Como Deus não possuía feições, mas apenas um corpo de luz (apesar das formas proporcionais às dos anjos e humanos), Gabriel esculpia um corpo neutro, sem quaisquer detalhes que pudessem trazer individualidades. Ao ver o amigo entrando, repousou as ferramentas e limpou as mãos, antes de dar-lhe um forte e longo abraço, não de boas-vindas, mas de tristeza. Não houve lágrimas, apenas uma aura cinza que se entrelaçava entre os dois filhos. 

O funeral foi dos mais simples e mais bonitos. Miguel veio com o arco favorito de Ártemis - o qual tomara quando as entidades gregas foram subjugadas - e de uma distância de aproximadamente um quilômetro e meio, atirou uma flecha de luz na estátua de honokrif, que eletrocutou-se. A cor negra da pedra tomou tom lilás, que espalhou-se em alguns filetes e desprendeu-se no ar, em forma de vapor. Formou-se também no ar a mesma forma corporal da estátua - ainda lilás - e retornou a ela, como a alma entra no corpo. A escultura pegou fogo branco e das cinzas saiu uma pomba da cor das chamas que a precederam. Iniciou-se o canto lírico dos anjos, de beleza indescritível para quem nunca ouviu. A pomba tomou voo e seguiu para o oceano, começando a árdua jornada de visitação a todos os mundos criados por Ele. O coro foi encerrando-se de forma gradual, cada figura silenciando-se de cada vez, até que apenas a voz de Jofiel foi ouvida por breve momento. Era chegada a hora de absoluto silêncio, a homenagem final Àquele que tudo criou, até que Metatron decidisse pronunciar-se. Quando o fez, foi para convocar a assembleia com os quatro.

Ergueram-se ao topo da torre Rafael, Miguel, Gabriel e Uriel, seguidos por Metatron.

- Nosso Pai sempre recorreu primeiramente a nós cinco antes de qualquer tomada de decisão das mais importantes. Não acho que em sua ida devamos depender de outros para concluirmos quem deverá assumir o trono. Nem mais, nem menos. Somos o grupo de elite e cabe a nós o futuro do universo. Objeções?

O restante esteve em silêncio, até que Uriel tomou as rédeas.

- Parece-me que você já está assumindo uma posição de líder. Por que precisa de nós para decidir quem sentará no trono?

- Hm, por que alguém precisa assumir o fardo do trono? Somos todos irmãos, o único motivo de Elohim estar acima de nós era a paternidade. - Intercedeu Rafael.

- Não o chame assim! - Palavras de fúria vieram de Metatron.

- Não enxergo motivos pelos quais ele não tenha o direito de chamar o Pai pelo nome, ainda mais levando-se em consideração que ele nem sequer mais existe. - A pontada de provocação veio de Gabriel.

- A questão não é como chamá-lo. Ele nos criou, não havia motivos para quaisquer filhos assumirem o trono, o qual era de direito exclusivo Dele, e permanece assim. Somos sábios o suficiente para sustentarmos a vida sem que um de nós se sobreponha. - Rafael tentava explicar-se.

- Diga isso a Lúcifer... - Gabriel provocava mais uma vez.

- Não seja caótico. - O mensageiro fora interrompido por Metatron, que prosseguia. - É preciso existir um líder, mesmo que o seu poder não seja absoluto como o do Pai; mas não é possível que o poder decisório seja igualmente distribuído por nós cinco, e muito menos pelo restante.

- Está calado até agora, Miguel. - Observava Uriel.

- Isso porque concordo contigo e com Rafael. Devemos ser todos iguais, mas me parece que um de nós já está dando um longo passo em uma direção perigosa.

- O único e pequeno problema, doce irmão, é que não somos todos iguais. Uns são mais poderosos do que outros. - Enquanto proferia o sarcasmo, Metatron via as palavras quase que literalmente atingindo o estômago e os olhos do irmão. - E Jesus não encontra-se mais entre nós.

- O que sugere? Que decidamos a coroação através de um combate? - Uriel não pretendia que a ideia fosse prontamente e seriamente aceita.

- Por que não? Se somos todos iguais, os combates resultarão na liderança igualitária que vocês tanto apoiam. - Metatron voltava as ideias dos irmãos contra os próprios.

- Eu não acho que a liderança deva ser igualitária - Por fim disse Gabriel, sério.
O clima na sala do trono era de tensão, e estava lançada no ar a disputa. Não haveria democracia, não haveria distribuição igualitária; a liderança seria decidida à moda antiga, à moda primordial: o mais forte subjugando o mais fraco. Metatron pronunciou-se uma vez mais:

- Então todos nos enfrentaremos? Será quase como um torneio.

- Abdico da minha parte na disputa. - Entregou Gabriel.

Ninguém ficou surpreso.

- Poderia dar trabalho aos dois, mas creio que por fim sucumbiria. - Rendeu-se Rafael, digirindo-se a Miguel e Metatron.

A surpresa foi leve.

- Além de concordar com Rafael, não tenho intenção de governar. - Livrava-se Uriel.

A surpresa foi considerável.

- Então acredito que só haverá um combate, doce irmão.

- Creio que sim, velho amigo, mas não tão cedo. O legado de nosso pai nunca será completamente honrado através de nenhum de nós, disto tenho certeza, mas não esperava uma sede tão intensa por sua parte. Se sentar-se em honokrif pela eternidade é o que deseja com tanto ardor, não tirarei esse gosto de sua boca, até porque também não é algo que ambiciono. Mas não farei parte disto. A coroa só será entregue a você após uma cerimônia, o poder ainda não está sobre ninguém. Aproveito esta brecha para renunciar ao meu papel neste reino. - Decidia Miguel.

A surpresa tomou conta dos quatro, nem Metatron conseguiu conter a expressão em seu rosto. Não houve resposta imediata.

- Por quê?

- Porque é a primeira vez em que me sinto verdadeiramente livre para ser quem eu quiser. E se decidir que é aqui que quero estar, retornarei, se assim me for permitido. No mais, não desejo fazer parte de disputa alguma, e muito menos ceder parte de minha liberdade a alguém que considero um igual, apesar de dizer o contrário. Esta é a minha primeira, e talvez única, chance de desvencilhar-me do fardo que nos une. Ao menos sem fazer parte de uma guerra.

- Então vá com ele. Talvez assim possa retornar a nós com maior gratidão em seu coração. - Encerrou Metatron.

Miguel retornou ao seu local de repouso para meditar. Quando partiu, três dos quatro irmãos - acompanhados de Salatiel - estavam presentes par despedir-se e abençoar a nova trajetória do anjo que libertava-se. Após a sua ida foi iniciada a cerimônia, em que Jeliel coroava Metatron, o novo senhor dos céus.

Um estrangeiro batia à porta. 

A servente a abriu e o vento foi o primeiro a entrar. Em seguida um indivíduo encapuzado saudou a moça e examinou o ambiente. Não havia ninguém sentado em nenhuma das centenas de mesas, nem mesmo o herdeiro da Babilônia, que não gostava de ficar inconsciente por muito tempo. 

- Vejo que empenharam-se em reformar aqui. De quem foi a ideia?

- Hórus sugeriu que a taverna fosse transformada em um imenso salão, para que em ocasiões especiais todos pudessem reunir-se ao mesmo tempo. Krishna foi o primeiro a concordar, e Odin determinou que assim fosse feito. - Respondeu a mulher.

- Ótimo, ótimo. Esse dia é hoje. Por favor, vá buscá-los.

Quando a servente começou a andar, o indivíduo a interrompeu.

- Espere. Odin permanece o líder eleito por aqui?

- Sim, senhor. Mas não há grandes decisões a serem tomadas, não há poder a ser usado aqui. A eleição de Odin é mais simbólica do que prática.

- Entendo. Bem, obrigado. Pode ir.

Após cerca de quarenta minutos o grande salão estava repleto de entidades pagãs. Para que houvesse melhor visualização para todos, os deuses organizaram-se em fileiras. Odin, Zeus, Thor, Hórus, Marduk, Ares e Vishnu puseram-se à frente. Odin foi o primeiro a falar.

- Lúcifer, seja bem-vindo mais uma vez. Imagino que algumas eras tenham se passado. O que o traz aqui?

Primeiramente o anjo abaixou o capuz.

- Serei direto. Meu Pai não existe mais. Bom, creio que esta seja a melhor maneira de colocar os fatos. E seu filho favorito decidiu reencarnar na Terra. 

Odin encarou com o único olho o ser acinzentado por alguns instantes, com expressão de incredulidade em seu rosto. Por fim, só conseguiu perguntar o óbvio:

- Como?

- Não temos certeza, mas é provável que tenha simplesmente se cansado. Acho que em seu lugar, teria feito o mesmo.

- "Temos"? 

- Meu irmão Salatiel trouxe a notícia. Aparentemente os milênios aproximaram algumas de nossas ideias. Metatron deixou claro o seu caráter ambicioso e isso o incomodou. Além disso, a ida de nosso Pai despertou seus desejos por liberdade e descrença no futuro do universo.

- E por que isso o traz aqui? - Dionísio (atrás, já com uma jarra cheia de vinho nas mãos) agiu sem pensar e entrou na conversa sem permissão. A nomeação de Odin como líder não aplacava os egos que haviam sido alimentados por no mínimo séculos a fio. A intromissão, contudo, ainda não era motivo para que houvesse atrito ou exaltação.

- Vamos ouvi-lo. - Replicou educadamente Marduk.

- Prossiga. - Corroborou Odin.

- Metatron é poderoso, mas não chega sequer perto de ser um pedaço da sombra de nosso Pai. Se vocês saírem daqui, não haverá retaliação. Ao menos não tão cedo. É tempo de se reorganizar e fincar os alicerces que sustentarão os próximos milênios, e para isso é preciso juntar forças, e não dispersá-las. É claro que um ultraje como esses deverá ser não só vingado, mas os danos contidos. Nesse caso vejo uma possibilidade. Não posso dar meu pensamento como certo, mas creio que se vocês deixarem esta instalação comigo, Metatron terá dificuldade em nos conter.

- Está sugerindo que o nosso contingente tem chances palpáveis? - Indagou Odin.

- Sim, estou. Em todo caso, Metatron liderará um ataque contra vocês, e poderei combatê-lo diretamente ou fazê-lo negociar, para que eu junte minhas forças com as dele. Em todo caso vejo vantagem, creio que devamos agir.

- Espere. - Interrompeu Zeus. - Caso o seu palpite se comprove, que vantagem o seu perdão nos trará? Está querendo nos usar para voltar para casa?

- Falta-lhe perspectiva, amigo. Voltar ao panteão dos servos de elite de Deus traz naturalmente muitas vantagens. Tomarei conhecimento das estratégias contra vocês, e poderei aguardar o melhor momento para traí-los. Mas o que realmente desejo são duas coisas. A primeira é me regenerar na fonte; e a segunda é uma arma. Meu irmão coroado possui uma espada muito poderosa, e se eu consegui-la, a balança penderá para o meu lado. O meu lado é o lado de vocês.

- E se a traição não for contra o seu irmão? - Foi o que Odin sugeriu.

- Eu não sou como seu irmão Loki. Reinar no Paraíso é uma ilusão. O verdadeiro poder residia em meu Pai, não no reinado. Nem mesmo para vocês vejo grandes vantagens em tomar o reino de meu Pai. Estou tentando firmar esta aliança mais tendo em mente a liberdade de vocês do que qualquer outra coisa. Mas se desejarem tomar os céus, não me importo. Já possuo o meu reino. 

- E quanto ao filho? - Lembrou Vishnu.

- Jesus? Enquanto estiver encarnado em um corpo mortal, não representará qualquer tipo de ameaça. Se alguém o matar, meu irmão irá retornar imediatamente, e é certo que assumirá a posição de direito, testemunhado pelo próprio universo. 

- Então permita-me recapitular. Deixaremos este lugar, e diante da fúria e medo de Metatron, você cairá em suas graças, para depois tomar a sua arma e oficializar uma guerra? - Resumiu Zeus.

- Grosso modo, sim. Ou, aliado diretamente a vocês, tomaremos o reino.

- Está supondo muitas coisas. Não confio em você. - Retrucou o deus do trovão.

- Dou-lhes tempo para pensar. Se posso dizer algo em minha defesa, só perdi a guerra porque meu Pai estava vivo, e vocês sabem disso. Sei que sabem. Existe uma margem de erro para minhas suposições, mas não é tão grande quanto pensam.

Thor preparava-se para responder, quando seu pai o interrompeu.

- Filho, não se precipite. Lúcifer, faremos uma assembleia neste salão e decidiremos  se nos uniremos a você ou não. Retorne no intervalo de tempo de uma semana terrestre.

O anjo concordou e, após despedir-se cordialmente, partiu.

Uma semana se passou e, como combinado, retornou.

Os primeiros passos ocorreram de forma quase idêntica. Os deuses demoraram mais de meia hora para agruparem-se no salão, e mais um tempo foi necessário para que se organizassem em fileiras. Odin e Marduk assumiram a primeira posição. O primeiro, já mostrando-se satisfeito, pronunciou-se:

- Amigo, bebamos para festejar nossa aliança.

Dionísio abriu um enorme sorriso.


Lucas Giesteira

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