Apreciação oportuna das diferenças


É muito comum haver determinados personagens de filmes e séries com um visual mais “extravagante”, mais fora do comum e da nossa realidade, mas que admiramos demais. Se todos fizerem com sinceridade a reflexão “se eu visse essa pessoa na rua, como reagiria?”, muitos se deparariam com a triste realidade: preconceito, olhar torto, falta de entendimento.

Exemplos não faltam: desde personagens de filmes do Tim Burton até personagens de época, como Ragnar Lothbrok, da série Vikings. Muitos os admiram como mera teoria, mas se vissem/virem os mesmos tipos na rua (sem as roupas de época), seria como seres à parte da nossa sociedade.

Acredito que o mesmo ocorra em diferentes graus com as redes sociais. Vemos muitos perfis de pessoas muito populares (não famosas, como as celebridades), com estilos muito próprios, e que recebem diariamente muitos admiradores e até mesmo “contatinhos”. Muitas vezes essas situações parecem passíveis até mesmo de dar inveja, mas é preciso levar em consideração que nas redes sociais é muito mais fácil que os semelhantes se encontrem, de todas as partes não só do país, mas do mundo. Além disso, assim como ocorre cinematograficamente, parece haver uma separação entre o que parece interessante na vida real e o que parece interessante em outros meios. Não me refiro apenas aos personagens ficcionais, mas aos próprios astros em suas vidas reais. Astros como Johnny Depp e Jared Leto são almejados mundialmente por suas belezas e extravagâncias, mas se qualquer mortal quiser adotar 20% desse estilo, sofrerá exclusões sociais em diferentes graus, conforme cada situação e especificidade. Trata-se da cultura profundamente arraigada do “o rico/famoso tem passe livre para ser quem quer ser”.

Assim sendo, nas redes o diferente é bem vindo, e muitas vezes até mesmo procurado, e quando deixa de ser interessante, no caso do mundo real, é descartado. Nas redes os semelhantes se procuram, unem-se, mas só possuem maior sorte os que vivem em cidades grandes, pois os que vivem em pequenas cidades sofrem muito mais com a exclusão. Assim como os grandes astros possuem alvará para serem eles mesmos, nas redes sociais cada um de nós também o recebe, mas no momento em que se pisa para fora de casa, ele se esvai.

Quando citei o exemplo dos personagens do Tim Burton e do grande rei Viking, pensei em termos gerais, e não nas minorias que realmente os admirariam caso morassem nos seus bairros. Assim sendo, a série Vikings é assistida por muitas pessoas que de fato gostam não só desses visuais, mas da cultura em geral, e levam isso para o dia a dia. Porém, o que dá audiência para uma produção como essa não são só essas pessoas, mas sim um grande público. E em termos desse grande público, quantos contratariam um Ragnar Lothbrok (em termos de aparência, e não da selvageria Viking) para trabalhar em sua empresa? É aí que criam-se as separações que acabam fazendo parte de um enorme senso comum, do tipo “gente tatuada e cheia de piercing trabalha na Chilli Beans”, “gente alternativa é super popular na Augusta, mas se pisarem na Villa Mix...”. E por culpa da própria sociedade vemos muitos desses sensos comuns tornarem-se realidade. Por que muitos ficam felizes quando veem uma pessoa que faz parte de um grupo alternativo em um emprego mais especializado? Porque é uma conquista, e esse é o problema. Não deveria ser um motivo para se ficar feliz, deveria ser obrigação que fosse algo normal.

É por essa razão que cada vez mais as pessoas criam seus grupos e ambientes próprios e se isolam do restante, havendo uma espécie de guerra, às vezes mais e às vezes menos silenciosa. Isso porque as pessoas sentem necessidade de criar regras onde elas não se aplicam, tratando-se de algo anti natural.

Por fim, é preciso dizer que também somos todos diferentes por dentro, uns mais fortes e outros menos. Uns mais acostumados a lidar com determinadas situações e outros menos. E mesmo os mais fortes não têm obrigação de ser assim o tempo todo. Se alguém que não se identifica com nada disso achar que é frescura, talvez essa pessoa precise experimentar viver alguns meses dessa forma.

Obs.: o enfoque deste texto é no preconceito por estilo,  mas o mesmo é valido para preconceitos de quaisquer tipos. Exemplo
mais comum: mulheres lésbicas são muito bem-vindas em sites pornôs, mas nas ruas não é bem o que ocorre.

Lucas Giesteira

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