Estranhos sob o mesmo céu



Na encruzilhada eu estava,

entre luzes e sombras, distraído.

O tráfego dançando ao som do silêncio,

e o tempo, implacável, seguindo o seu ritmo.

Foi quando ouvi o seu nome
pela primeira vez, no vazio.
Era eco ou destino?
Um estranho brilho no frio.

Se éramos estranhos naquela noite,
o acaso foi o nosso guia.
Cruzamos essas linhas incertas,
e a sorte escolheu a poesia.

Houve um tempo em que você me chamava de milorde,
enquanto bebíamos uísque no resort,

quando a fogueira nos abraçava sob as estrelas,

e os astros nos davam sermões em línguas esquecidas.

Mas se um dia teus olhos eram mapas,
me guiando por mares que eu nunca soube navegar.
Agora, são véus fechados,
um mistério que nem tento mais desvendar.

Teu riso, antes sinfonia,
é agora o eco de uma sala vazia.
E na curva do silêncio,
encontrei a sombra do que fomos um dia.

Caminhamos juntos, mas em direções opostas,
em ruas que já não se encontram mais.
Pois o tempo, impiedoso,
desfez os contornos do nosso cais.
Nos perdemos em um labirinto de horas,
onde as memórias são trilhas apagadas.
Nossa paixão, antes tempestade,
hoje não passa de águas paradas.

Há uma pergunta no vazio, sem resposta a me dar: 

Seríamos estranhos esta noite, ao nos encontrar?


Ao pensar em teu nome, antes um grito de amor, 

Agora ouço um eco distante, cheio de dor. 

A resposta é cortante, no ar a pairar, 

Entre as estrelas que viram a nossa paixão se findar.

Te vejo às vezes,
não em carne, mas na trama dos dias.
Seu reflexo surge em poças na calçada,
nos vitrais partidos de sonhos antigos.

A fogueira que outrora iluminava nossos olhos
é agora cinza espalhada pelo campo.

E os astros, cúmplices de nossas juras,
olham para nós como juízes distantes,
sem palavras de conforto ou condenação.

Somos estranhos sob o mesmo céu,
e mesmo assim, o sabor do uísque ainda me lembra de você.


L. G. Unger


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